Apesar de ser cada vez mais comum na sociedade atual, o divórcio é um processo doloroso e que demanda cuidado e atenção. Representa uma crise na família, causando stress e gerando mudanças significativas na estrutura familiar.
Durante o primeiro ano após o divórcio, é comum que tanto os pais como as mães se sintam ansiosos, deprimidos, rejeitados e sem capacidade de lidar com todas as alterações decorrentes da separação. Poderão existir mais contas para pagar, mais tarefas para fazer, mais sentimentos para gerir, ao mesmo tempo que se sentem sozinhos e se afastam da vida social e dos "amigos de casal" que tinham anteriormente.
Uma situação de divórcio tem também um grande impacto nas crianças. Os desafios variam de acordo com as idades:
Entre os 3 e os 4 anos
As crianças não compreendem bem o fluir dos acontecimentos, pelo que a ausência rotineira de um dos pais pode induzir sentimentos de abandono. Podem sentir-se ansiosas quando vão para a escola ou para outro local onde devem permanecer sem os pais, originando momentos de choro e birras. Podem ter medo dos pesadelos e ansiedade noturna, que os leve a pedir para dormir na cama do pai ou da mãe. Outras situações comuns são a regressão no treino do bacio e uma maior necessidade de objetos tranquilizadores, como fraldas, bonecos, entre outros.
Entre os 4 e os 6 anos
É comum um aumento da agressividade e outros problemas de comportamento. Como têm dificuldade em separar a fantasia da realidade, é muito importante que os pais expliquem devidamente a situação, de forma a diminuir a elevada tendência que as crianças têm nestas idades de inventar histórias para explicar a partida de um dos pais: podem negar a existência do divórcio, fantasiando com o retorno à situação anterior; podem deduzir que o pai ou a mãe que saiu de casa os rejeitou e trocou por outra família melhor; podem sentir-se responsáveis pela situação e culpar-se pela separação dos pais.
Entre os 6 e os 8 anos
Conseguem compreender melhor o significado do divórcio e as suas implicações. Nesta idade, os sentimentos de culpa são menos frequentes, contudo, receiam a rejeição e ficar sem uma família. Podem sentir-se sozinhos, deprimidos e muito tristes.
Entre os 8 e os 12 anos
As crianças nestas idades mostram-se mais corajosas e contidas, tentando controlar os seus sentimentos. Existe uma grande tendência para sentimentos de cólera, geralmente dirigidos à mãe, e para problemas específicos com os pares e na prestação escolar. Dores de cabeça e de barriga são também frequentes.
O que fazer?
Apesar de todos os desafios, uma situação de divórcio não tem, obrigatoriamente, de deixar marcas ou causar atrasos no desenvolvimento de uma criança. Neste processo de adaptação, cabe aos pais desempenhar um papel de proteção dos filhos, muito importante para a minimização do impactos a curto e longo prazo. E como podem fazê-lo? Aqui ficam algumas dicas:
Fale com o seu filho
A esmagadora maioria das crianças pequenas não recebe de um dos pais qualquer informação ou explicação sobre o divórcio, transformando esta situação num choque. Uma ou duas semanas antes da separação, sente-se com o seu filho e fale-lhe da iminência deste acontecimento. Seja franco e aberto, na medida do possível, e dê oportunidade à criança de fazer perguntas a ambas as partes. Evite comentários depreciativos, detalhes desnecessários e não a envolva em processos de culpa. Acima de tudo, é importante deixar claro que o divórcio é entre os pais e em nada vai afetar o amor de ambos pela criança.
Assegure o não abandono
É essencial que garanta à criança que vai continuar a ter o pai e a mãe, apesar destes viverem separados. Mais uma vez, fazer a distinção entre o amor dos pais pelos filhos e o amor entre os pais. Contudo, se um dos pais não pretende continuar a sua função parental, é importante que haja transparência, de forma a não causar grandes desilusões. É importante que a criança tenha acesso a informação concreta sobre cada um dos pais, onde cada um vai viver e com que frequência vão conviver.
Torne o mundo da criança o mais sólido possível
Explique o máximo que conseguir todas as mudanças que vão acontecer. Com o divórcio, é natural que a criança sinta o seu mundo menos seguro, pelo que é importante dar-lhes tanta informação prática quanto possível.
Crie uma atmosfera de diálogo e encoraje a expressão de sentimentos
Prepara-se para a necessidade de ter de responder várias vezes à mesma pergunta. Encoraje a criança a expressar a sua tristeza, mágoa ou indignação. Mantenha a comunicação aberta e continua, encorajando a partilha de ideias e sentimentos. Saiba, no entanto, que todas as crianças são diferentes e, por vezes, poderá levar alguns meses até que a criança esteja preparada para falar e partilhar os seus sentimentos.
Não use a criança para espiar
Nunca, em situação alguma, use o seu filho como espião, mensageiro ou instrumento para ferir o seu ex-cônjuge. A criança sentir-se-á culpada, aflita e incapaz de recorrer a qualquer um dos pais para se apoiar. Estas situações poderão causar graves perturbações no desenvolvimento social, emocional e académico.
Evite ser negativo e manifestar cólera para com o pai ou mãe ausente
A criança deve ser encorajada a manter boas relações com ambos os pais, pelo que questões como finanças e custódia não devem ser discutidas à frente dela. Também não deve falar dos seus problemas pessoais com a criança, mesmo que não haja mais ninguém com quem os discutir.
Dê tempo a si e à criança
O divórcio é um processo, e como tal, tempo e paciência são essenciais.
Seja consistente na imposição de limites e regras
Evite gastos excessivos e demasiada condescendência. Opte antes por expressar o seu amor e dedicar-lhe mais tempo. Se a criança reagir com comportamentos negativos, recorra à imposição de limites, ao tempo de pausa ou a consequências lógicas. Os seus sentimentos de culpa pelo divórcio não devem servir de pretexto para anular as regras e os limites. Estabelecer limites consistentes ajuda a criar um ambiente ordenado, previsível e seguro, essencial para a criança.
Estabeleça uma prática de visitas saudável e consistente
Minimize ao máximo os conflitos em torno das visitas, porque as crianças sentem-se culpadas por isso. Tente chegar a acordo com o seu ex-cônjuge e cumpram sempre as visitas combinadas. Tentem fazer das visitas um momento agradável, em que a criança se sinta confortável para partilhar como aprecia o tempo passado com cada um dos pais. Não use as visitas para falar sobre temas como pensão de alimentos ou manipular vantagens em outras áreas.
Tenha sempre presente que o processo de curar e lidar com o stress causado por um divórcio leva tempo - a maioria dos pais e filhos afirmam que voltam a sentir-se bem novamente 12 a 16 meses após o divórcio. Até lá, faça o melhor uso possível da sua resiliência e seja paciente. Caso considere necessário, procure a ajuda de um profissional, que poderá orientá-lo ao longo deste processo.
Fonte: Os Anos Incríveis
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