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Não tenho desejo sexual. E agora?

Atualizado: 7 de fev. de 2020



A falta de desejo sexual é uma das questões mais referidas em consulta de terapia de casal. As causas são diversas e englobam fatores biológicos, como questões hormonais, e fatores psicológicos, que representam a grande maioria dos casos.


A dinâmica do relacionamento e o dia a dia cada vez mais stressante têm um grande impacto nas questões da sexualidade, e em particular, no desejo sexual. Uma rotina diária repleta de solicitações e responsabilidades, tanto no contexto laboral como familiar, que comprometa significativamente o descanso, é, geralmente, um factor desencadeante da falta de libido, em qualquer fase da vida. Apesar de muitos casais verem neste sintoma uma crise e o fim do amor, na verdade, é possível que esteja mais relacionado com o bem-estar, a gestão da autonomia e a comunicação, que desempenham um papel determinante na aproximação do casal e na sua vida sexual.


Na sua investigação sobre intimidade e desejo sexual nas relações de casal, a psicóloga Luana Ferreira fala-nos de dois padrões emergentes nos fatores que influenciam a intimidade e o desejo sexual, tanto de forma positiva como negativa. O stress, a falta de tempo, a fadiga e a rotina ou monotonia surgem de forma repetida e consistente nos fatores que mais perturbam a intimidade e o desejo sexual. Por outro lado, como contribuidores positivos, são referidas a mudança ou quebra na rotina, a ausência de stress, a disponibilidade de tempo e energia e a partilha. A autora chama-nos ainda a atenção para a interessante referência frequente a “momentos de saída a dois”, como agregadores da maioria dos fatores promotores do desejo e da intimidade, tais como a novidade, a disponibilidade e a partilha, diminuindo a probabilidade de ocorrência de fatores perturbadores, tais como a rotina e interferências de outros subsistemas da vida familiar e social.


A inovação, a partilha e o esforço surgem então como possíveis estratégias de promoção e manutenção do desejo. Também Esther Perel, psicoterapeuta especializada em casais, dá-nos algumas pistas no seu livro ‘Amor e Desejo na Relação Conjugal’:


Cultive o seu jardim secreto

Cultivar a individualidade numa relação é fundamental: “em vez de trabalharem constantemente na construção da proximidade, defendo que os casais só terão a ganhar com uma certa individualidade.” É importante que se redescubra como pessoa e possa ter tempo para si e para o que gosta de fazer, sem ter, necessariamente, de o partilhar com o/a parceiro/a.


O mito da espontaneidade

As imagens de sexo a que somos expostos são irrealistas. Nos filmes, o sexo é sempre instantâneo, assim que se aproximam, os dois já estão excitados. Na vida real, sabemos que, para a esmagadora maioria de nós, não é assim. A essência do erotismo é a imaginação, a sedução e a antecipação. Não basta casar, viver junto e esperar que o/a nosso/a parceiro/a nos deseje sempre. É essencial pararmos de ansiar pelo espontâneo e darmo-nos “ao trabalho” de preparar uma surpresa, um jantar especial a dois, dizer ‘amo-te’.


Hora marcada na agenda

Pode parecer estranho, mas para muitos casais a solução passa por planear o tempo para estar junto e o que fazer com ele. Pode ser apenas uma noite por semana, ou até de quinze em quinze dias, mas se a tivermos marcada na agenda, esperamos por ela, desejamos que venha, tal como umas ansiadas férias. Este planeamento é muitas vezes olhado como pouco romântico pelos casais, porque nos convencemos de que os gestos verdadeiramente românticos caem do céu, como nos filmes. Mas já sabemos que não, certo? “As pessoas dão valor ao ritual, à antecipação, à gentileza, ao esforço. Planear tem uma conotação de criatividade, confere valor acrescentado à relação, diz ‘és importante para mim e estou a criar uma altura e espaço especial para nós”.


“O erotismo em casa requer engajamento ativo e intenção voluntária. É uma resistência permanente à mensagem de que o casamento é sério, mais trabalho que brincadeira, e que a paixão é para adolescentes e imaturos. Queixar-se do tédio sexual é fácil e convencional. Alimentar o erotismo é um ato de desafio e resistência."

(Perel, 2007)


Referências:

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